segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Mas eu adoro extrair vesículas

O Diretor chama ao seu gabinete o jovem cirurgião, que há menos de duas semanas está trabalhando no hospital.

- Bom dia, doutor Marcelo. Tudo bem com o senhor? Como tem sido sua experiência em nosso hospital? Tem sido bem atendido? Existe algo de que gostaria reclamar?
- Não, doutor Carlos Alberto. Estou gostando muito desse meu novo emprego. Acho todos aqui extremamente competentes, os suprimentos em ordem, as salas de cirurgia excelentes e todas as enfermeiras muito atenciosas. Na verdade, estou adorando ...
- Fico feliz em saber. Este hospital é a minha vida e quero que todos sintam um imenso prazer em exercer sua missão. Mas chamei-o aqui por outro motivo. Estive analisando o prontuário de suas cirurgias e fiquei muito preocupado. Em dez dias o senhor fez quinze extrações de vesículas? Será que não houve um exagero? Em minha atividade como médico, em dezenas de hospitais que passei, jamais percebi um índice tão elevado de cirurgias específicas e, ainda mais, feitas por um único médico. Por favor, doutor Marcelo, o que está havendo?
- Não está havendo nada de anormal. Adoro extrair vesículas. Foi minha especialidade na área médica, fiz pós-graduação sobre esse tema e estou finalizando minha tese. Leio tudo sobre o assunto. Tenho até um “site” na Internet, estou “plugado” no assunto. Sem extrair vesículas, minha vida profissional não teria o menor sentido ...
- Mas, diga-me uma coisa doutor, e seus pacientes? Estavam com problemas de vesícula? Era necessário extraí-las?
- Ora doutor, sua pergunta é irrelevante. Sei lá se estavam ou não com problemas de vesícula. Isso é um detalhe clínico, o que importa é que fiz lindas cirurgias e isso só pode engrandecer meu currículo e, é claro, seu hospital. E agora, se o senhor me permite, estou correndo para a cirurgia. Chegou uma nova paciente com uma vesícula novinha em folha ...” (Celso Antunes, 1999).

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